Antigamente, os valores passados de pai para filho, sobretudo,
nos seios das famílias mais humildes permeavam as trincheiras da honra, da
educação e principalmente da verdade. Na família de Joãozinho não foi diferente.
Filho de dona Maroca, mãe tenra, mas, dura quando
necessário, e do Velho Tião, homem honesto, pai de 12 filhos cultivados entre a
lida da roça nos 30 anos dedicados à família e aos excessos de copos de
aguardentes, que diminuíam os agouros do sertão baiano.
Aos 15 anos, para ajudar os seus pais, Joãozinho
vive sua primeira ruptura. Depois de se sentar a frente do ônibus, com lágrimas
encharcando os seus olhos, via cada vez mais turvo, o reflexo de Maroca, Tião e
seus 11 irmãos, se distanciar pelo retrovisor do ônibus, no início de sua
jornada à Brasília.
Passados 20 anos de labuta, Joãozinho prosperou na
capital do País. Os princípios aprendidos com os pais o ajudaram a se tornar um
empresário respeitado no ramo da comunicação. Ele mantinha uma empresa com 10
funcionários e frequentemente contratava pessoas para atender projetos
específicos.
Certo dia, ao precisar de uma repórter, Joãozinho
publica um anúncio no jornal. Ele especifica que a profissional deve ter experiência,
no máximo 25 anos e enviar foto anexada ao currículo.
Alguns dias, após contratar a profissional, ele
recebe uma intimação da Justiça Trabalhista questionando seu anúncio. Joãozinho,
homem ilibado pelos ensinamentos que recebeu dos pais, depois de algumas
pesquisas na internet, percebe que incorreu em um erro grave. Naquele instante,
passa pela segunda ruptura em sua vida, cometer uma infração legal.
Transtornado com a situação, ele escreve uma longa
carta de defesa para a Justiça. Nela, ele reconhece o erro cometido e se
desculpa com a juíza por sua ignorância para com as leis e por tão grotesca
atitude. Um pouco mais aliviado e até orgulhoso, ao terminar sua retratação,
Joãozinho procura um advogado para se informar sobre como encaminhar o
documento à Justiça.
No escritório de advocacia, doutor Havelange, profundo
conhecedor das leis, lê a carta de Joaozinho e diz não ser a solução mais
adequada. Intrigado, ele questiona o motivo e o doutor explica que, ao
reconhecer tal erro, ele produzirá provas contra si mesmo.
Naquele instante, para evitar uma condenação, Joãozinho
tem sua maior ruptura, faltar com a verdade. Aquele valor tão nobre, herdado de
seus pais e cultivado ao longo de sua vida, se torna uma dura realidade. A verdade nem sempre liberta, às vezes,
aprisiona.
E, assim, vimos doutor Havelange transformar tantos
Joãozinhos em personagens famosos com dinheiro na cueca, castelos de areia,
pizzaiolos do Congresso, verdadeiros homens dos colarinhos brancos. Homens que
passam a utilizar a verdade somente mediante a conquista de uma delação
premiada.
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